quinta-feira, 9 de outubro de 2008

28

Perdi o caminho, fiquei agoniado porque já não sabia mais que horas eram. Tive vontade de gritar, mas faltou coragem, queria tanto que me ouvissem que senti medo. Me senti impotente. Tentei, em vão, procurar se havia alguém na mesma situação que a minha, olhei ao redor e nada. Na verdade tinham o mesmo que eu, se escondiam.
Nesse momento, sentei no chão, fiquei esperando todo aquele desespero passar e ir bem longe de mim, tive vontade de me sentir mais uma vez útil, de ser a pessoa certa no lugar certo e na hora certa, quis também estar de volta ao lar, quando apenas as brincadeiras eram as coisas certas e erradas ao mesmo tempo. Desejei rever todo o meu passado, estar lá vivenciando tudo novamente, mas principalmente, estar no colo, com todo carinho que me foi dado, queria ser uma criança novamente, queria brincar com meus amiguinhos, queria voltar no tempo e me esconder na barriga da minha mãe. Impossível, berrou minha consciência, querendo me tirar dali. Fuja. Não tive forças, precisei de dois ou três dias, não lembro ao certo. Queria ser mais rápido.
As vezes esqueço que tenho 28.

L. Will

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Apague a luz

Essa noite faltou luz na minha rua e (acho) que no bairro todo. Fiquei tonto com a escuridão. Estava em meio a uma escovação dental frenética, com pressa pra ir deitar, já era hora. Mas naquela hora faltava algo, faltava luz. Ah, peguei um isqueirinho meu, que não funciona, mas tem uma lanterninha azul (muito eficiente por sinal), e fui pra janela espiar, pra ver se era só aqui em casa que acontecia o tal fenômeno. Fui até a sala, abri a janela, o que vejo? O céu. Caraca, o céu! Numa magnitude inexplicável, que não me deixou sair dali. Em meio à toda a escuridão da cidade, ele tava lá..imponente, esplêndido. Ele existe! Na sua mais ingênua forma de ser. Não sei, de certa forma ele me tocou. As estrelas que ali apareciam tinham vida. Todas cochichavam. Me diziam coisas que ninguém nunca disse. Tolice?! Não sei. Só sei que notei algo diferente. Vi por um segundo as coisas nuas, como elas deveriam ser. Despidas dessa caparaça que a gente insiste em usar. Que nos insistem em colocar. Confesso que fiquei esperando uma estrela cadente, daquelas que a gente vê em desenho, mas não foi desta vez. Queria fazer um pedido, ou melhor, três. Se bem que na verdade, penso que todo aquele céu é que fez um pedido pra mim, acho que foi isso que eu notei ali, naquela noite: apague a luz menino, apague a luz.
Ricardo.